Desastres e atos violentos não geram apenas
memórias ruins. Em muitos casos, imagens de heróis são as que fazem as
manchetes.
Por exemplo, no último dia 5 de agosto, um atirador
invadiu um templo sikh em Milwaukee (EUA) e disparou contra as pessoas que lá
se encontravam. Enquanto alguns fugiram, outros saltaram para detê-lo.
Uma das seis vítimas do massacre foi o presidente
do templo, Santwat Singh Kaleka, que testemunhas dizem ter tentado desarmar o
atirador. O primeiro policial que respondeu à cena, Brian Murphy, levou nove
tiros fazendo o mesmo, e milagrosamente sobreviveu. Ambos foram aclamados
heróis.
O mesmo foi dito de um tripulante de 57 anos que,
em janeiro, quando o cruzeiro Costa Concordia naufragou na costa ocidental da
Itália, ficou a bordo para ajudar os outros, enquanto até mesmo o capitão do
navio o havia abandonado.
O que faz algumas pessoas nessas situações
correrem, fugirem, pensarem só em si mesmas, enquanto outras demonstram coragem,
e ficam, arriscando suas vidas por outras?
Segundo os cientistas, é muito difícil estudar este
tipo de comportamento altruísta, durante calamidades, porque a maioria dos
“heróis” morre.
Mas os especialistas sugerem que esse tipo de
comportamento pode existir porque o heroísmo é profundamente valorizado.
Os pesquisadores Selwyn Becker e Alice Eagly
apontaram em um estudo de 2004 que a ideia de heroísmo existe em praticamente
toda cultura humana já registrada, desde pinturas rupestres, folclore, literatura
até os
super-heróis fantásticos do mundo moderno, como o Batman e o Super-Homem.
Ser altruísta, salvar a vida de outros, exatamente
como um super-herói faria, dá às pessoas um status nobre.
Um exemplo é a pesquisa publicada na revista
Evolutionary Psychology em que participantes dispostos a suportar a dor –
dispostos a colocar as mãos em uma bacia de gelo por 40 segundos, por exemplo –
foram julgados como mais simpáticos, e ganharam significativamente mais
dinheiro a partir de uma quantia que podia ser dividida da forma como os
próprios voluntários do estudo queriam.
Sendo assim, engajar-se em comportamentos de
autossacrifício pode ser uma estratégia rentável a longo prazo. Resumindo: os impulsos
heroicos podem ser, ao mesmo tempo, egoístas.
O que isso significa? Que não existem pessoas
altruístas de verdade? Tudo que fazemos tem uma razão?
Essa discussão moral é longa, mas ao que diz
respeito ao heroísmo, o psiquiatra Deane Aikins desestimula a concepção de que
seja uma escolha.
Com isso, ele quis dizer que é difícil alguém tomar
decisões por puro altruísmo, sem “segundas intenções”. Mas estas podem ser
boas, como proteger alguém que você ama, do modo como namorados fazem com seus
amores quando elas correm perigo.
Também pode ser que algumas pessoas tenham
hormônios do estresse que atingem picos em situações perigosas, fazendo-as
agirem por conta da adrenalina.
Porém, na maioria dos casos, os “heróis” são
pessoas que tentaram fugir, mas não conseguiram. Essa foi a conclusão de uma
série de estudos com veteranos americanos que serviram em combates no
Afeganistão e no Iraque. Segundo Aikins, sorte aleatória define muitos dos que
sobrevivem que mais tarde são chamados de heróis.
Mas os poucos casos que parecem fruto de um
verdadeiro altruísmo deixam algumas lições importantes sobre os heróis: os que
ficam e ajudam geralmente são pessoas que cultivam laços sociais antes e depois
da crise.
Profissionais como policiais e bombeiros, por
exemplo, podem já ser pessoas que fazem o que fazem porque isso gera um
“pagamento” em forma de facilidade e aceitação social.
Também, essas são pessoas que geralmente têm mais
comportamentos de risco, ou gostam do perigo. A conclusão é de um estudo de
2005 sobre não judeus que ajudaram a salvar vítimas do nazismo. Eram pessoas
que gostavam de arriscar e tinham bastantes laços sociais.
De um modo geral, a correlação mais forte entre os
heróis é que a maioria interage com amigos e familiares em uma base regular.
Então, mesmo que ajam impulsivamente para salvar os outros (assim como os
“covardes” agem impulsivamente para se salvar), a raiz para o comportamento
parecer ser social, ou ligada ao status social do herói.[CNN]
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